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Eu, você e Petrópolis: quanto lixo!

Problema antigo, sempre empurrado “pra baixo do tapete”, o lixo e sua destinação precisam ser encarados com mais seriedade e responsabilidade para evitarmos um colapso que se prenuncia com as constantes crises ambientais enfrentadas, geralmente, com soluções paliativas. Em Petrópolis não é diferente, e a recente tromba d’água que atingiu principalmente a região do Caxambu deixou à vista de todos/as uma imensa quantidade de lixo por toda a margem do Piabanha, principalmente ali onde o rio corta o bairro de Correas.

E foi nessa ocasião que um imenso debate tomou conta das redes sociais em nossa Cidade. Tinha gente reclamando de tudo: da população que joga o lixo nas ruas de qualquer jeito; do prefeito que não providencia o recolhimento desse lixo; da empresa que não atende com a mesma presteza as diversas regiões de Petrópolis... Enfim, muitas reclamações, muitas defesas de seus próprios pontos de vista, bastante sectarismo a ponto de não admitir que “o/a outro/a” possa ter alguma razão..., mas nenhuma proposta de solução!
Em nossa Cidade é comum vermos as caçambas de lixo nos bairros sempre cheias, transbordando mesmo, e mais o lixo espalhado no entorno, e mesmo entulho! Por um lado, o ambiente ideal para proliferação de ratos, baratas, moscas, mosquitos e doenças. Por outro lado, o desrespeito de quem joga entulho em qualquer canto escondido da Cidade, na certeza da impunidade que a falta de fiscalização, e muitas vezes a conivência dos preguiçosos, facilita. Mas afinal, de quem é a responsabilidade por essa situação, e como enfrentá-la?
Ora, para enfrentar a questão do lixo é necessário partir do pressuposto de que vivemos em uma sociedade de consumo, insaciável, na era do one-way, do descartável, do “novo-pelo-novo”, onde o que está velho e/ou usado serve apenas para jogar fora: joga fora no lixo! E nos últimos anos, com a política inclusiva dos governos petistas, o consumo atingiu um volume impressionante – seja com a troca de carros pelos “do ano”, celulares mais modernos, eletrodomésticos, alimentos processados e embalados para venda no varejo etc., tudo ainda mais facilitado pelo amplo crédito ao comprador. E, de cidadãos, nos tornamos consumidores.
Que fazer então, se essa espiral de consumismo tende a crescer cada vez mais e, com isso, o aumento do lixo é inevitável?
Podemos começar lembrando a proposta ambientalista dos 3 Rs da Sustentabilidade – Reduzir, Reutilizar e Reciclar. No entanto, já que constatamos a vigência do consumismo desenfreado entranhada na sociedade, vamos deixar de lado o primeiro R – de reduzir o consumo! Insistir nesse ponto, hoje, creio que seria até ingenuidade. Quanto ao segundo, o R do reaproveitamento, do não jogue fora à toa, pelo que vemos nos dias de hoje também está prejudicado. Afinal, o que é bom é o que é novo, não é? Então joga o velho no lixo! Sobra-nos então o terceiro R, o da reciclagem, que parece ser o único viável nos tempos correntes, até porque é o único R que pode interessar ao capitalismo – afinal, se reciclar não desse dividendos, não teríamos tantas usinas de reciclagem por aí.
Mas, e por aqui? Voltando à vaca fria, quando aconteceu a tromba d’água ali pelo Caxambu, o que se destacava nas margens do Piabanha em Correas eram os sacos plásticos e demais embalagens de vidro, plástico e metais, que não se deterioram e que são passíveis de reciclagem. O lixo orgânico, vegetal ou animal, e que é acondicionado pela população nos sacos plásticos fornecidos pelo comércio de varejo, esse lixo orgânico é absorvido pela Natureza – respeitando certo limite, e contanto que não seja proveniente de esgoto (mas essa é conversa para outro artigo).
Assim, podemos então chegar à constatação de que a reciclagem de todo esse material é o primeiro passo para evitarmos uma nova crise do lixo, e o bom funcionamento e sucesso das cooperativas de catadores e usinas de reciclagem, além das unidades industriais de processamento de todo esse “lixo” não nos deixam mentir. E chegamos então à questão que tanta polêmica causou nas redes sociais: de quem é a “culpa”, de quem é a responsabilidade?
Nesse quesito, em Petrópolis a situação é clara como água não poluída. Tantas caçambas transbordando, tanto lixo onde não há caçambas, tanto entulho largado de qualquer jeito pela Cidade, só podem ser reflexo tanto da escassez de caçambas de lixo pelos bairros, como da precariedade da coleta. E quanto ao entulho, ou falta local destinado ao despejo desses materiais, ou a fiscalização é bastante falha – fico com os dois. Dessa forma, em relação ao lixo, chegamos à responsabilidade da administração pública e da empresa contratada para tal fim. Afinal, quantos são e onde estão os caminhões de coleta que quase não encontramos circulando pela Cidade? Com a palavra a Prefeitura e a Câmara Municipal, que deveria fiscalizar os serviços públicos em nome da população, seus eleitores!
Mas e a reciclagem? Em nossa Cidade de 300 mil habitantes parece que contamos hoje com dois pontos de coleta de material reciclável: na Mosela e em Itaipava. Nos dois pontos vemos a parceria da Prefeitura com a concessionária de energia, e determinados materiais ali entregues revertem em pequeno desconto nas contas de energia. É bom? Sim, mas é pouco, muito pouco, pouco mesmo. E a coleta de reciclável domiciliar, que funcionava até a administração de Paulo Mustrangi com a Condep, sumiu – ninguém sabe, ninguém viu. E a educação da população através de campanhas específicas junto aos meios de comunicação? Nadica de nada... E a responsabilidade da Secretaria de Educação na conscientização das novas gerações em relação à questão do lixo? Alguém sabe de alguma ação?
Se souber, por favor informe este escriba.

Paulo DeCarvalho/ Jornalista

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